Intercâmbio na Irlanda
Quando eu decidi fazer meu intercâmbio na Irlanda, dois fatores foram decisivos. Em primeiro lugar, a localização geográfica. Por estar próxima a muitos outros países europeus, seria fácil viajar para conhecer lugares como Paris, Londres, Roma, e outros com os quais sempre sonhei conhecer. E em segundo, a facilidade para obtenção do visto para estudante. Desde que eu estivesse portando todos os documentos exigidos, era muito difícil a imigração irlandesa me mandar embora.
Neste artigo eu explico como foi minha experiência de estudante de inglês por 16 meses em Dublin. Também te dou dicas gerais do que você precisa saber antes de ir para o seu intercambio na Irlanda. Se quiser saber como foi que eu larguei tudo para seguir meu sonho de morar no exterior, acesse este artigo.
Em princípio, te adianto a fechar seu programa com uma agência de intercâmbios, assim como eu fiz. Prezei pela conveniência e pela segurança de ter o apoio de quem já conhece todos os trâmites envolvidos e aconselho você a fazer o mesmo. Quando se está em território estrangeiro, sem conhecer nada ainda, tudo parece muito mais difícil do que realmente é. E essa assistência pode ser crucial para garantir suas noites de sono tranquilas.

O CLIMA
Assim que pisei em solo irlandês, a primeira coisa que me veio à cabeça foi: “Caramba, está muito mais frio do que eu imaginava”. E olha que eu havia imaginado bastante frio, viu!? Havia lido diversos comentários de pessoas que viviam na ilha falando mal do clima. Todavia, achei tudo aquilo exagerado e pensei que era fácil acostumar com um pouquinho de frio e com o clima cinzento. Afinal, eu via até um certo charme no clima londrino. Bastou uma semana para eu entender a que realmente aqueles comentários se referiam.
Além da tendência maior de adoecermos no inverno, os dias mais curtos e escuros tem influência direta no nosso humor. Estudos comprovam que existe, inclusive, um tipo de depressão sazonal com maior tendência a acontecer em épocas frias. Aos poucos, isso começou a ser um problema no meu dia-a-dia. Sempre detestei usar guarda-chuva e passar frio. Minhas roupas do Brasil que aguentavam tranquilamente o frio do inverno catarinense não suportavam o vento gelado de Dublin. Aquele dia gostoso de chuva, ideal para ficar em casa vendo filme, transformou-se em um pesadelo. Quando estava de folga, rezava por um dia de sol para poder aproveitar melhor o momento, passear pelos parques e reabastecer a vitamina D do corpo. Aliás, pílulas de vitamina D são indispensáveis para quem vai fazer intercâmbio na Irlanda.
O Dia em que Fui à Praia
Só para ilustrar, lembro de ter ido à praia, durante o verão, em um dia super quente, atípico, que atingiu os 18 graus. E lembro de ter pensado que jamais usaria um short nesta temperatura no Brasil (muito menos um bikini). Na volta para casa, dentro do ônibus sacolejante, passei frio e me achei tola por ter acreditado naquele “calor” momentâneo. Seja como for, tudo na vida é questão de costume, não é mesmo!? E você acaba aos poucos, se acostumando até mesmo com o clima. Isso não deve ser empecilho na hora de pensar no seu intercâmbio. Mas claro, se você também não gosta de frio e tiver a oportunidade, vá para a Austrália, onde o clima tropical é muito mais parecido com o brasileiro.

AS ESCOLAS
Quase todos os intercambistas em Dublin viajam com a intenção de estudar e aprimorar o inglês. Isso acontece porque há algumas facilidades no quesito estudo X trabalho para esta modalidade. Mas é claro que existem também programas de ensino superior, como cursos universitários. Basta você escolher o que melhor se encaixa no seu perfil. No meu caso, como eu não tinha cidadania europeia, e não queria gastar mais de € 10 mil em um curso de pós-graduação ou mestrado, optei pela opção de estudo da língua inglesa.
As escolas de inglês ficam abertas no período matutino e vespertino, entre 08h e 18h. É provável que o estudante tenha que assistir a aulas presenciais de cerca de 3 a 3 horas e meia, 5 vezes por semana. Alguns cursos tem uma carga horária diária mais longa e por isso conseguem anular as sextas-feiras.
Grande parte das escolas de inglês mais acessíveis tem muitos (mas muitos) brasileiros. Por consequência, o inglês pode demorar um pouco mais para deslanchar, já que acaba-se falando muito português. Por outro lado, faz-se amizades facilmente. Desse modo, fica mais fácil arrumar vaga em acomodação, atualizar-se sobre opções de emprego, e claro, construir elos fortes e sentir-se mais familiarizado com a nova vida.
Minha Experiência com a Escola
A escola que eu cursei durante o período do meu intercâmbio na Irlanda foi a Erin School of English. O custo-benefício desta escola foi muito bom para mim. Os professores com quem tive a sorte de estudar eram muito bons. Em geral, 20% somente dos alunos de minha sala não eram brasileiros. Estudei com mexicanos, sul-americanos e asiáticos. Os funcionários foram sempre muito gentis e a localização era ótima.
TRABALHO
O que atrai diversos intercambistas para o país irlandês é a possibilidade de estudar e trabalhar até 20 horas por semana. Dessa forma, o estudante precisa fazer um investimento inicial para pagar o curso, a passagem, os primeiros dias de acomodação, o visto e as demais despesas (no meu caso, gastei cerca de R$ 15 mil). Entretanto, após a chegada e com os documentos como PPS – Personal Public Service (uma espécie de CPF) arranjados, já é possível procurar emprego e se manter com os rendimentos mensais. O salário mínimo da Irlanda é um dos maiores do mundo. Então mesmo um serviço de 20 horas semanais é suficiente para pagar todas as contas, na maioria dos casos.
Os trabalhos part-time mais comuns para estudantes são: entregadores de comida; lavadores de pratos (chamados de Kitchen Porters); trabalhadores de limpeza; garçons e garçonetes; baristas; atendentes de loja e babás. Por certo, há outras oportunidades com projeção de carreira e melhores salários para aqueles que podem trabalhar full-time, que possuem nível de inglês intermediário e alguma formação universitária.
Minha Experiência de Trabalho
A princípio, eu comecei a trabalhar em uma clínica de dentistas, como recepcionista. E mal ganhava para comer. Aceitei um bico de entregadora de panfletos e outro de babá para complementar minha renda nas primeiras semanas do meu intercâmbio na Irlanda. Em seguida, quando meu inglês já havia desenferrujado, consegui um emprego como vendedora em uma loja de celulares no maior shopping da cidade. Foi lá que trabalhei durante todo o resto da minha permanência em Dublin.
Atenção para o fato de que cidadãos que possuem dupla cidadania, sendo uma delas europeia, podem morar e trabalhar na Irlanda sem precisarem estudar. Assim como trabalhadores qualificados, com ocupações englobadas na lista de “Critical Skills Occupations” e com visto aprovado pelo Governo.
VISTO
Certamente não é possível trabalhar com visto de turista na Irlanda, caso você estiver se indagando. O visto mais comum para intercambistas brasileiros é o chamado Stamp 2, com validade de até 8 meses e possibilidade de renovação. Esta renovação pode ser feita duas vezes, desde que o aluno continue cursando inglês e o curso tenha duração mínima de 25 semanas. Portanto, neste programa, são 2 anos ao todo que o indivíduo pode permanecer na ilha esmeralda. Este tipo de visto confere, ainda, a possibilidade de trabalhar 20 horas semanais enquanto estiver estudando e 40 horas semanas no período de férias escolares.
Necessidade de Visto para Estudante
Até algum tempo atrás, não era necessário aplicar para o visto antes de entrar na |rlanda. Porém, algumas regras mudaram após o início da pandemia do coronavírus. Atualmente, o Governo irlandês está exigindo a emissão de visto anterior à viagem. O pedido deve ser feito através de um formulário online até três meses antes do embarque, neste site. É necessário apresentar:
— Formulário de visto impresso e assinado;
— Passaporte atual com no mínimo 6 meses de validade e cópia dos passaportes anteriores;
— 2 fotos 4,5cm de altura e 3,5 de largura, atualizadas e coloridas;
— Carta do estudante assinada explicando os motivos de sua viagem.
— Carta de aceitação do curso de uma escola autorizada, incluindo carga horária e detalhes do curso;
— Comprovante de que o programa de estudos foi pago;
— Comprovante de seguro saúde obrigatório;
— Comprovantes de história educacional. É importante fornecer detalhes atualizados do seu histórico profissional;
— Evidência do seu nível de inglês (ou irlandês); e
— Comprovação financeira de € 3.000.
O tempo médio de espera para obtenção de uma resposta é de 8 semanas, porém possíveis atrasos devem serem considerados. Neste momento, não é necessário pagar nenhuma quantia para o pedido do visto. Somente após entrar na Irlanda e solicitar sua IRP (Irish Residence Permit) é que você terá um custo de € 300. Fique atento às mudanças para a exigência de visto prévio.
RESIDÊNCIA
Conseguir uma boa moradia em Dublin não é tão fácil quanto pode-se imaginar. A cidade sofreu um boom imobiliário e os preços subiram incrivelmente nos últimos anos. Só para exemplificar, em 2018, eu dividia um apartamento com mais 5 pessoas e pagava por um quarto de casal sem banheiro a quantia de €1000 por mês. Vamos levar em consideração que era um apartamento recém reformado e no centro da cidade. Certamente há outras opções mais afastadas do centro com melhores preços.
O normal para os estudantes brasileiros é dividir casa com outros indivíduos na mesma situação. São comuns casos de apartamentos de 60 metros quadrados, com dois quartos e 2 beliches em cada quarto, sendo divididos por 8 pessoas. Eu mesma cheguei a morar um mês numa casa afastada do centro, com três quartos, compartilhada com mais 10 pessoas além de mim. Paguei, na ocasião, €330 por este beliche, e só tinha um chuveiro na casa. Isso nem parece assim tão ruim, quando penso que amigos meus chegaram a viver em uma casa com 26 pessoas!
Calma, não se assuste. Mas se você for do tipo de pessoa que gosta de ter seu cantinho e se incomoda com a convivência com outras pessoas, esteja preparado para desembolsar no mínimo €750 mensais para ter seu próprio quarto ou studio. Este último é mais popular entre casais, por exemplo. São as famosas quitinetes no Brasil. Em geral, são compostos por apenas um cômodo, onde cozinha e quarto dividem o mesmo espaço. Estes studios são encontrados a partir de € 1100.
CUSTO DE VIDA
Fora o valor do aluguel, que encarece o custo de vida, em geral as outras despesas são bem acessíveis. Eu ficava impressionada com os preços dos produtos no mercado. Por vezes, gastava €20 e era suficiente para passar a semana. Comprava sorvete da Haagen-Dazs por €3. E 3 barras de Kinder Bueno custavam €1,50. Tinha uma pizza famosa entre os brasileiros que era menos de €1! Sem contar produtos de limpeza e de higiene pessoal. São verdadeiramente baratos. A carne, que costumam dizer que é cara, proporcionalmente aos demais produtos pode parecer. Mas quando comparamos seu preço com as horas trabalhadas para comprá-la ou com o salário recebido, o custo é muito menos oneroso que no Brasil, por exemplo.
Para comer e beber fora, claro que vai gastar-se um pouco mais. E mesmo assim o valor é em conta.Nos pubs ou baladas encontramos pints (medida de copo grande de cerveja com cerca de 500 mL) por até €1,50 ou €2, dependendo do estabelecimento. E uma refeição para duas pessoas em um restaurante de boa qualidade vai sair cerca de €50.
A quantidade de pubs em Dublin é absurda. Já ouvi dizer que há mais de 1000 deles. Se não chegou neste número ainda, está próximo disso. Por isso, há diversão para todos os gostos, desde música latina a rock’n’roll e eletrônica. Da mesma forma, há muitos restaurantes de qualidade com especialidades diversas. Inclusive, você encontra pizzarias, pastelarias, padarias e até mesmo “coxinharia” brasileiras.
TRANSPORTE
O transporte é um dos itens mais caros em Dublin. Custa € 20 semanais para estudantes andarem de ônibus livremente durante estes 7 dias. O transporte funciona bem, exceto em horários de trânsito, quando podem sofrer alguns atrasos. Alternativamente, há a opção do luas, uma espécie de metrô elétrico não subterrâneo. É composto por duas rotas que abrangem as principais áreas da cidade, com suas 67 estações.
Há aqueles que prefirem locomover-se através do uso de bicicletas. Existem muitos ciclistas em Dublin, já que a área é plana e não muito ampla. Além disso, muitos usam a bicicleta, ainda, como instrumento de trabalho. Assim, não gastam com transporte e ainda ganham dinheiro. O ambiente é bastante favorável para o uso das bikes. Só é preciso ter cuidado com possíveis furtos e respeitar as regras para ciclistas.
Você deve estar se perguntando por que os intercambistas não compram carros. Bem, apesar de os veículos serem extremamente baratos, o seguro é obrigatório e pode custar 6 vezes o valor do carro. Pior ainda se você não for europeu. Ademais, há poucos imóveis que oferecem garagens e é necessário tirar a carteira de motorista irlandesa para dirigir, o que pode ser um pouco custoso.
Minha Experiência com Transporte Público
Exceto quando morei um mês naquela casa afastada do centro, vivi sempre no centro da cidade de Dublin. Por este motivo, fazia praticamente tudo a pé. Tanto a escola, quanto os supermercados, lojas e pubs eram próximos e a uma distância tranquila para caminhar. Quando comecei a trabalhar no Dundrum Shopping, precisei de transporte público e ia trabalhar de luas. Demorava em média 30 minutos para ir e 30 minutos para voltar. Quase sempre tinha poltrona para curtir o percurso sentada e o trajeto era tranquilo. Atenção para o fato de que não há cobrador no luas. É necessário carregar um cartão, chamado Leap Card, para descontar antes de subir a bordo.
SEGURANÇA
Dublin já foi uma cidade bastante segura. Contudo, com a forte onda migratória dos últimos anos, casos de racismo e xenofobia são presenciados. As situações mais corriqueiras são de violência contra homossexuais e imigrantes. Em geral, são jovens delinquentes, que acham graça lançar ovos, latinhas e balões de água em estrangeiros. São os chamados knackers ou “nanás”, geralmente vestidos em trajes de moletom, e participantes de algum programa de auxílio do Governo. Há inúmeros casos de furtos de bicicletas, motocicletas e celulares por estes grupos, mesmo em plena luz do dia.
Evite frequentar locais onde há habitações do Governo e onde esta molecada costuma se juntar. Se avistar alguns deles vindo em sua direção, atravesse a rua, entre em algum estabelecimento, proteja-se e evite problemas. Eles são privilegiados pela lei, pois a maioria é menor de idade e são vistos como meras “crianças” pela Polícia. Também tenha em mente que, antes de tudo, você é o imigrante.
Minha Experiência no Quesito Segurança
Eu, pessoalmente, só tive problema uma vez, no meu quase 1 ano e meio de intercâmbio na Irlanda. Eu estava no ponto do luas, esperando o transporte para ir ao trabalho. Era quase 1 hora da tarde e eu estava distraída conectando o fone no meu celular para escutar música durante o trajeto. Foi quando senti nas mãos aquele puxão sobre a minha cabeça. Por sorte, meu celular tinha um pop-socket, e o malfeitor não conseguiu roubá-lo. Senti o sangue quente, pois nunca antes havia sofrido uma tentativa de furto/roubo na vida. Aquilo me deixou chateada, mas não corri risco de vida, nem nada do tipo. Só perderia um bem material que com um mês de trabalho eu poderia recuperar.

Vazio por causa do Covid. Outubro de 2020
Em resumo, a minha experiência de intercâmbio na Irlanda foi sensacional. Eu não faria nada diferente. Pessoalmente, eu cresci e evoluí muito. Cheguei no nível avançado de inglês, que nove anos de cursinho no Brasil não foram capazes de impulsionar de tal maneira. Vivi experiências profissionais que nunca imaginei e fiz amigos que levarei para a vida toda.
Recomendo demais que você também passe por uma experiência de intercâmbio. Se for fazer seu intercâmbio na Irlanda, espero ter te ajudado com este texto. Já se quiser conhecer a experiência do meu amigo Recieri em Malta, acesse este artigo. Se quiser saber mais sobre algum tópico, pergunte nos comentários abaixo. Ou ainda, me procure nas redes sociais e podemos conversar mais sobre o assunto.

Após dez anos de carreira em concurso público, Camila abandonou tudo e foi viver seu sonho de morar no exterior. Desde 2017, morou na Irlanda, Estados Unidos, Brasil, Itália e Portugal. Como imigrante, enfrentou muitos desafios, mas sempre de cabeça erguida, pois o que mais lhe motiva é conhecer este mundão e tudo o que ele tem a oferecer!